quarta-feira, 4 de abril de 2012

RÖHM, Ernst Julius Günther (*28/11/1887†02/07/1934)

Ernst Röhm nasceu em Munique, estado da Baviera, em nov./1887. Aos 19 anos ingressou no Exército Imperial tendo lutado na 1ª Grande Guerra como jovem capitão. Röhm foi condecorado por bravura diante do inimigo com as duas classes da Cruz de Ferro. Trazia em seu rosto algumas cicatrizes, resultado dos ferimentos recebidos em combate. Por trás desta aparência rude e sisuda, escondia-se uma faceta de caráter que o impedia de juntar-se, em termos sociais, aos seus camaradas de armas - Röhm era um notório homossexual. Em nov./1918 os aliados vitoriosos assinaram o armistício com a Alemanha. Milhares de soldados e oficiais retornaram a um país em colapso pela derrota militar e pelo caos político, embora, no íntimo, o soldado alemão não se sentisse vencido e sim traído pelos políticos corruptos, pelos socialistas e pelos judeus. O Tratado de Versalhes, assinado no ano seguinte, poria a pá de cal na sepultura do antigo poderoso Exército Alemão - foi criada a Reichswehr com um reduzido contingente de 100 mil homens para proteger as fronteiras e a segurança interna. Os que ficaram de fora juraram resgatar sua antiga força militar. E não foram poucos. Muitos destes novos desempregados se juntaram em bandos, formando os chamados Freikorps (Corpos Livres), com estrutura militar precária, mal armados e com uniformes improvisados. Sequer soldo recebiam. Tudo em prol da defesa da pátria mãe contra inimigos internos e externos. 
Röhm não foi desmobilizado como a maioria de seus companheiros de farda, mas continuou a manter contato estreito com aqueles que ingressaram no Freikorps. Ainda em 1919 Röhm conheceu o Partido dos Trabalhadores Alemães (DAP) e ficou impressionado com o magnetismo nato do orador Adolf Hitler. No ano seguinte, ele e alguns amigos filiaram-se ao partido. Esse grupo deu ao movimento nova visão militarista e obteve fundos secretos do Exército regular e armas para o partido, então carente de tudo. Logo, ele e Hitler concordaram que deveria existir um braço armado do partido para proteger os comícios nazistas e expulsar os manifestantes contrários (principalmente comunistas). O capitão Röhm encarregou-se de organizar essa força recrutando entre seus parceiros e amigos do Freikorps os mais truculentos e capacitados para a tarefa. Assim, em nov./1921, depois de algumas trocas de nome, nascia a Sturmabteilung (Tropa de Assalto), conhecida, geralmente, pelas iniciais SA. A farda usada pelos seus integrantes era de cor marrom claro, daí vem o apelido "camisas pardas", uma cópia dos "camisas negras" da Itália. Röhm não podia assumir o comando desta unidade paramilitar pois ainda estava na ativa do Exército regular, mas tratou de indicar um seguidor seu.
Hitler, já presidente do NSDAP, inquietava-se com o fato das SA estarem sendo custeadas pelo Exército oficial. Desejava pô-las inteiramente sob a autoridade do partido, no caso, ele. Röhm, por outro lado, queria exatamente o contrário, manter-se financiado pelo Richswehr, para um dia, após abolido o Tratado de Versalhes, tomar seu lugar, abertamente, com seus homens, ao lado do Exército regular. Desta forma, com uma batalha de egos velada, Hitler designou Göring, em mai./1923, para o comando das SA. Na prática nada mudou, pois tanto Hitler necessitava dos "camisas pardas", para manter a ordem, como Röhm precisava do partido para atingir seus ambiciosos objetivos.
Em nov./1923 houve a tentativa nazista de depor o governo da Baviera, o putsh de Munique ou, como alguns preferem chamar, o "golpe da cervejaria". Confiante no apoio que recebera do General Ludendorff e com as SA fiel à causa, Hitler julgava certo o sucesso. Uma procissão de homens encabeçada pelo futuro ditador saiu marchando em direção ao edifício do Ministério da Guerra e foi recebida à tiros pela polícia. O fim melancólico do golpe parecia ser também o fim de Hitler e do seu movimento nacional-socialista. Como é sabido, Hitler e Hess foram presos, Röhm foi expulso do Exército e Göring, ferido na virilha, fugiu para a Áustria. O NSDAP caiu em desgraça e se esfacelou e as SA foram proibidas por lei.
Röhm, agora fora do Reichswehr, teve a oportunidade de tentar reorganizar o partido e as SA. Hitler, embora estivesse cumprindo pena, foi consultado e aquiesceu, afinal não tinha muita escolha. Röhm pôs-se a trabalhar e com sua capacidade de organização assim como os bons contatos que tinha no Freikorps e no Exército, logo ressuscitou as SA, agora com nova denominação (Frontbann) a fim de burlar a lei que as aboliram.
Hitler tão logo foi libertado, em dez./1924, tratou de reerguer o partido, contudo encontrou um Röhm ainda mais irredutível que antes em relação ao poder do partido sobre as SA. A briga de egos não havia terminado. Por fim a corda arrebentou no lado mais fraco, Röhm solicitou sua renúncia da organização em abr./1925. Hitler preferia não ter nenhuma ala militar no partido a tê-la fora de seu controle. O desiludido capitão, sem outra alternativa viável, aceitou o convite do governo boliviano para ser assessor militar. Röhm passou quase 6 anos em La Paz e, durante este período, Hitler deu nova vida ao NSDAP e conseguiu, agora sem oposição, a reformulação e liderança das SA, além de ressuscitá-la em bases permanentes. Foi mais além, um pequeno grupo de homens que ele havia separado para agir como seu guarda-costas, ainda antes do golpe de Munique, agora havia sido incentivado e cresceu consideravelmente, essa formação era a Schutzstaffeln (Tropa de Proteção) ou simplesmente SS e seu próximo comandante seria um tal Heinrich Himmler.
Em ago./1930 o futuro líder da Alemanha desentendeu-se com o comandante das SA, von Salomon, por motivos bem semelhantes aos que o levaram a romper com Röhm, assumindo sua liderança após a renúncia daquele. Hitler ficou nessa posição por três meses e concluiu que precisava de um homem de sua confiança para assumir essa tarefa sem ameaçá-lo. Ele lembrou que às vésperas da viagem de Röhm para a Bolívia houve um momento de reconciliação entre ambos e que o antigo capitão lhe teria dito - "se precisar de mim, estarei à sua disposição". Não havia dúvidas em Hitler sobre a capacidade de liderança dele, apenas um leve resquício de desconfiança em relação à sua lealdade. Resolveu arriscar. Ernst Röhm recebeu um apelo urgente de seu velho camarada, fez as malas às pressas e retornou para a Alemanha ávido para assumir novos desafios. Tão logo chegou foi feito comandante das SA. Entretanto Hitler havia feito tantas mudanças durante sua ausência que seria quase impossível ele agir de forma independente e ameaçadora. A maior destas mudanças foi desmembrar as SS das SA, transformando a primeira numa unidade inteiramente autônoma da segunda.
Röhm passou a trabalhar freneticamente com diversos objetivos: dar coesão à tropa que em algumas regiões da Alemanha exigia independência, reorganizar verticalmente o contingente como se fosse um exército moderno e, não menos importante, aumentar o seu efetivo. Com essa força sob seu controle Hitler teria possibilidades de chegar ao poder na Alemanha.
Em dez./1932 as SA contavam com um efetivo de mais de 300 mil homens e o NSDAP tinha uma grande bancada no Reichstag, o Parlamento Nacional Alemão. Finalmente, em jan./1933, o velho presidente Hindenburg, à contra gosto, chamou Hitler para formar um governo de coalizão, oferecendo-lhe a chancelaria. Seguiu-se grande desfile noturno das SA e SS sob o Portão de Brandenburg na capital com acordes marciais e clarões de tochas. Tinha início o Reich de mil anos!
Apenas um homem não estava tão satisfeito naquele momento. Este homem era o capitão Röhm, afinal, sua tropa havia ajudado os nazistas a promoverem a revolução nacional-socialista e conquistarem o poder. Uma vez atingido este objetivo, de que serviria seus  milhares de homens? Mesmo porque o Exército oficial, embora nem tão grande assim, fazia parte da máquina do governo. Afora isso havia a rivalidade explícita das SS que não gozavam da má reputação que sua tropa tinha. Hitler fez de Röhm Ministro sem pasta do Reich em dez./1933, e tolerou o poder das SA até que as fiéis SS de Himmler estivessem suficientemente fortes para substituí-las. O novo Chanceler sempre tolerou a depravação pessoal de Röhm enquanto seu partido era oposição e lutava pelo poder, agora tornara-se desagradável. O impasse entre Röhm e a cúpula do Exército era previsível. Sempre foi ambição do chefe das SA incorporar os homens do  Exército à sua tropa e tornar-se comandante supremo. Por sua vez o comando do Exército julgava essa possibilidade completamente inconcebível, afinal como um bando de arruaceiros uniformizados liderados por um homossexual poderia ser o Exército da nova Alemanha? A tradição e honra prussianas da Arma seriam jogadas no lixo. O ditador, em meio a essa queda de braço, assistia tudo somente pensando em trazer para seu lado a única força poderosa que ainda não havia conquistado - o Exército. Ernst Röhm passou a trabalhar nos bastidores tentando aliciar no meio empresarial, civil e opositor, seguidores para sua causa. Com esta atitude colecionou inimigos poderosos dentro do regime: Hermann Göring (presidente do Reichstag e Primeiro-ministro da Prússia), Heinrich Himmler (comandante das SS e chefe da Gestapo), Rudolf Hess (vice-líder do NSDAP), Reinhard Heydrich (lugar tenente de Himmler), Marechal Blomberg (Ministro da Defesa), Joseph Goebbels (Ministro da Propaganda do Reich), General von Reichenau (Chefe de E-M do Exército), General Fritsch (Comandante do Exército), Almirante Raeder (Comandante da Marinha) e outros políticos que deviam favores ao Führer. Ao lado do chefe dos "camisas pardas" havia apenas seus mais fiéis colaboradores e parceiros sexuais no seio da tropa (agora com quase 3 milhões de elementos) e opositores ao novo regime. Acima deste panorama viciado e sórdido estava a figura cansada do Marechal Hindenburg, então com 86 anos de idade, presidente da República de Weimar desde 1925. Um respeitável espectador dos fatos.
Mas havia um plano oculto já desenhado para por fim a esta ameaça. Na noite de 30/06/1934 noticiou-se um boato falso de que as SA estariam orquestrando um levante em Berlim e Munique para o dia seguinte. Hitler enfureceu-se e tomou a decisão - Röhm deveria desaparecer! A ordem foi dada e desencadeou um banho de sangue pelo país. Röhm foi preso e assassinado dois dias depois após recusar-se a tirar sua própria vida. Outros quatro líderes das SA foram enviados ao pelotão de fuzilamento. Os assassinos das SS com seus uniformes negros e botas reluzentes comandados por "Sepp" Dietrich e Emil Maurice vasculharam casa por casa em Munique atrás de suas vítimas a fim de liquidá-las. Não se tratava apenas de expurgar o comando das SA. Goebbels, Himmler, Göring e Heydrich possuíam suas listas particulares de vítimas. Nunca se saberá ao certo quantas pessoas foram assassinadas na "Noite das Longas Facas". Nos dias seguintes a imprensa, sob o tacão de Goebbels, noticiou de forma amena o ocorrido, omitindo detalhes e fatos relevantes. Em 13/07 Hitler foi no plenário do Parlamento dar as explicações oficiais dos acontecimentos. Em seu discurso magistralmente preparado para iludir os ouvintes e a imprensa estrangeira, ele conseguiu justificar a violência contra a cúpula das SA "como reação natural a má conduta, aos excessos alcoólicos e ao banditismo contra pessoas decentes, comportamento este indigno da parte de líderes nacional-socialista". Estes sentimentos, sem dúvida, eram compartilhados pela maioria do povo alemão.
Hitler nomeou um novo chefe para as SA, Viktor Lutze (vide bio aqui), uma posição a partir de agora pouco relevante uma vez que as SS logo suplantariam aquelas.
Promoções:
12/03/08 2º Tenente
??/04/15 1º Tenente
??/04/17 Capitão
Principais condecorações:
? Cruz de Ferro 1914 2ª Classe
20/06/16 Cruz de Ferro 1914 1ª Classe
Principais comandos/posições:
??/12/23 - 17/04/25 Cmte. Supremo das SA
04/05/24 - 17/04/25 Deputado no Reichstag
??/04/25 - ??/12/30 Serve junto ao Exército Boliviano
05/01/31 - 02/07/34 Cmte. Supremo das SA
11/12/33 - 02/07/34 Ministro do Reich

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