É a mais pura verdade que as mulheres na Alemanha do 3º Reich jamais pegaram em armas para combater. O papel delas, entretanto, não foi menos importante. Desde cedo, ainda adolescentes, integravam a ala feminina da Juventude Hitlerista, preparando-se para serem mães e esposas exemplares. Participaram também, já adultas, do esforço nazista de trabalho nas indústrias de armamento, assim como no serviço de comunicações e saúde das Wehrmacht. Nesta postagem vamos abordar o aspecto mais cruel do papel das mulheres durante o regime: como guardas dos campos de concentração.
Com o desenrolar da guerra e o recrutamento de mais soldados para as frentes de batalha, foi natural a escassez dos guardas masculinos das SS para cuidar da disciplina dos prisioneiros dos campos. Em 1942 as primeiras guardas femininas chegaram a outros campos oriundas de Ravensbrück, campo de concentração construído exclusivamente para mulheres. Entretanto, com o crescimento do número de prisioneiros em todos os campos, era necessário recrutar mais mulheres para esta tarefa. As voluntárias vieram da classe média-baixa da população, com pouca instrução e sem muita experiência de trabalho, respondendo a anúncios oficiais, publicados em jornais, apelando para aquelas que desejassem demonstrar sua devoção à causa nazista. Assim, ao todo, cerca de 5 mil mulheres desempenharam este terrível trabalho.
A seguir apresentamos as guardas-SS femininas que se tornaram famosas por sua excessiva crueldade no tratamento aos internos:
Irma Grese (out./1923-dez./1945) - Aos 15 anos, desinteressada dos estudos, abandonou a escola e ingressou na BDM (Bund Deutsch Mädel - a Liga da Juventude Feminina Alemã). Em 1942, aos 18, apresentou-se como voluntária no Campo de Ravensbrück para treinamento. Até o final da guerra atuou em três campos de extermínio (Ravensbrück, Auschwitz-Birkenau e Bergen-Belsen). Segundo relatos de testemunhas sobreviventes, Irma era sádica e assassina à sangue-frio. Suas torturas não poupavam sequer crianças e idosos, além de abuso sexual. Constantemente circulava pelos pavilhões com suas pesadas botas, um chicote pronto para usar e um cachorro feroz que atacava os prisioneiros ao sinal de qualquer irregularidade. Entre seus pertences foram encontrados abajures feitos com pele humana. Toda esta fama de atrocidade acabou lhe imputando apelidos, entre os internos: - a "Cadela de Belsen" ou a "Hiena de Auschwitz". Irma chegou a ser promovida à Oberaufsehrin (Supervisora Sênior), contudo foi aprisionada pelos ingleses quando o Campo de Bergen-Belsen foi libertado em abr./1945. Levada a tribunal militar, foi condenada à morte e executada por enformamento com apenas 22 anos.
Ilse Koch (set./1906-set./1967) - Após uma infância feliz e educada, embora pobre, sua carreira dentro do regime nazista começou nos anos 20 quando filiou-se ao Partido Nacional-Socialista. Em 1936 foi trabalhar como secretária e guarda no Campo de Sachsenhausen, perto da capital germânica. No ano seguinte transferiu-se para o campo de extermínio de Buchenwald como esposa do comandante, o também cruel Coronel-SS Karl-Otto Koch (ago./1897-abr./1945). Em 1940 com a chegada de mais e mais prisioneiros, passou a desempenhar a função de guarda feminina. Ilse humilhava e torturava os internos com brutalidade sádica excessiva. No ano seguinte o casal foi enviado para o Campo Majdanek com Karl nomeado comandante e Ilse Oberaufseherin (Supervisora Sênior). Assim como Irma, Ilse também colecionava souvenires feitos com pele humana. Os prisioneiros que possuiam tatuagens pelo corpo eram mortos e tinham suas peles arrancadas pelos médicos do campo. Após dois anos o casal foi acusado de corrupção e luxúria sendo aprisionado pela Gestapo. Ilse foi solta no começo de 1945 e seu marido, o verdadeiro culpado, condenado à morte e fuzilado. Ilse, sem demonstrar arrependimento, e seus dois filhos, passaram a viver com sua família até ser novamente presa pelos norte-americanos em jun./1945. Levada a tribunal por duas ocasiões, foi inocentada por falta de provas na primeira e condenada à prisão perpétua na segunda, em 1951, por tribunal alemão. Ilse, a "Bruxa de Buchenwald", acometida de transtornos psicológicos, enforcou-se na prisão feminina, três semanas antes de completar 61 anos.
Maria Mandel (jan./1912-jan./1948) - Austríaca de nascimento Mandel iniciou sua carreira de guarda-SS no Campo de Lichtenburg em 1938. No ano seguinte, junto com outros guardas, foi transferida para o recém construído Campo de Ravensbrück, exclusivo para prisioneiras mulheres. Logo ganhou reputação de violenta impressionando seus superiores, os quais, em 1942, a promoveram à Oberaufseherin (Supervisora Sênior). No final daquele mesmo ano foi outra vez transferida, agora, para o Campo de Auschwitz, na Polônia com a função de Lagerführerin (Líder de Campo), cargo equivalente a subcomandante, subordinada direta do notório Tenente-coronel-SS Rudolf Höss (nov./1901-abr./1947). Ali ela controlava todos os subcampos femininos do complexo e chegou a promover Irma Grese. A "Besta de Auschwitz", como ficou conhecida, selecionava prisioneiras para a morte nas câmaras de gás. Há relatos que lhe responsabilizam diretamente pela morte estimada de 500 mil mulheres e crianças judias, ciganas e prisioneiras políticas. Em nov./1944 Mandel foi enviada para o Complexo de Dachau, sub-campo de Mühldorf, onde permaneceu até o final da guerra ante a aproximação das tropas aliadas. Fugiu para sua terra natal, a Áustria, acreditando estar segura. Em ago./1945 foi presa pelas autoridades norte-americanas e devolvida à Polônia, onde no, Campo de Auschwitz, cometeu suas maiores atrocidades. Em 1947 foi julgada por crimes contra a humanidade e sentenciada à morte por enforcamento. Em janeiro do ano seguinte a sentença foi executada.
Herta Bothe (jan./1921-mar./2000) - Aos 18 anos, com 1,91 metro de altura, loura e amante dos esportes, ingressa na BDM, organização de adolescentes femininas doutrinadas com ideologia nazista. Em 1942, com pouca experência de enfermagem, foi recrutada para treinamento como guarda-SS feminina no Campo de Ravensbrück. Após quatro semanas foi transferida para o Campo de Stutthoff como Aufseherin (Supervisora), onde sua reputação de surrar prisioneiras com extrema brutalidade sem clemêmcia se consolidou. Cerca de 85 mil pessoas morreram ali depois de 1943 quando o campo de reclusão foi transformado em campo de extermínio dentro do programa da "Solução Final". A "Sádica de Stutthoff", como ficou mais conhecida, foi enviada para o Subcampo de Bromberg-Ost em meados de 1944. Não trabalhou ali por muito tempo, pois em janeiro do ano seguinte, em virtude da aproximação das tropas soviéticas na Polônia, as prisioneiras foram forçadas a uma caminhada extrema de 700 km, superior a 30 dias, até o Campo de Bergen-Belsen. Herta, já promovida a Oberaufseherin (Supervisora Sênior). acompanhou as detentas naquela que ficou conhecida como a "Marcha da Morte". As mais fracas iam morrendo pelo caminho de esgotamento e inanição. Este último campo foi libertado pelos britâncios em abr./1945. Muitas guardas-SS femininas foram presas ali, inclusive Herta, e forçadas a carregar corpos de prisioneiros mortos para covas coletivas. Em setembro ela foi levada a tribunal e julgada pelos atos excessivos que cometeu durante sua estadia nos campos. Apesar das provas testemunhais existentes, sua condenação foi de somente 10 anos de reclusão, contudo foi libertada em dez./1951. Em mar./2000, aos 79 anos, Herta, convicta de sua inocência, faleceu de causas naturais.
Hermine Braunsteiner (jul./1919-abr./1999) - Austríaca de nascimento, Hermine não conseguiu realizar seu sonho de infância em se tronar enfermeira e trabalhou como doméstica até 1938 quando seu país foi anexado ao Reich alemão. Após adquirir cidadana germânica, mudou-se para aquele país vizinho e iniciou, em 1939, seu período preparatório para guarda-SS no Campo de Ravensbrück, assim como tantas outras jovens de sua geração interessadas em progredir profissionalmente através da causa nazista. Após o período de treinamento ela permaneceu no campo depois do começo da 2ª Guerra Mundial e presenciou a chegada de centenas de prisioneiros oriundos dos países ocupados. Após três anos, em 1942, Hermine foi transferida para o Campo de Majdanek, próximo a cidade de Lublin, como Aufseherin (Supervisora). O complexo ali existente era um misto de campo de extermínio (Vernichtungslager) e campo de trabalho forçado (Arbeitslager). A partir dai, ela desenvolveu o lado mais obscuro de sua personalidade, participando da "seleção" de mulheres e crianças que seriam encaminhadas para as câmaras de gás. Chicoteava, juntamente com outras guardas-SS, até à morte aquelas que se recusavam. Tinha ataques de fúria selvagem e pisoteava as internas com suas pesadas botas cravejadas de aço na sola. Neste mesmo ano, por mais estúpido que possa parecer, ela foi condecorada com a Cruz de Mérito de Guerra 2ª Classe, por seu "excelente" desempenho (vide foto acima, 1º botão da farda). Em janeiro do ano seguinte ela retornou a Ravensbrück, Subcampo de Genthin, promovida a Oberaufseherin (Supervisora Sênior), para auxiliar no trabalho de evacuação, ante a aproximação do Exército Vermelho. Mais uma vez, a "Égua Pisoteadora", demonstrou toda sua crueldade vibrando seu chicote de equitação. Nos dias finais do conflito na Europa, Hermine desertou para a Áustria, entretanto logo foi detida pela polícia austríaca e entregue às forças de ocupação britânicas. Após um ano de encarceramento foi levada a tribunal austríaco que a condenou, em 1948, a três anos de serviço por tortuta e maus tratos. Ela foi libertada em 1950 e posteriormente anistiada de outras acusações que lhe pesavam. Permaneceu em seu país natal trabalhando em pequenos empregos até emigrar, em 1958, para o Canadá com o marido, após recente casamento. Em 1959 ingressou nos Estados Unidos, onde adquiriu cidadania norte-americana em 1963. Sua sorte iria mudar no ano seguinte, quando o famoso caçador de nazistas israelense Simon Wiesenthal descobriu-a escondida naquele país. Sua cidadania foi cassada em 1971 pelas autoridades locais e dois anos depois foi extraditada para a Alemanha pela responsabilidade coletiva na morte de 200 mil pessoas durante seu tempo de guarda-SS. Já havia passado mais de 30 anos dos fatos. Em Düssendorf, Alemanha Ocidental, começou uma intensa batalha jurídica a respeito de sua real cidadania, se alemã ou austríaca. Isso prolongou o processo até que ela foi levada a tribunal para julgamento coletivo com outros 15 réus pertencentes às SS em Majdanek. Das nove acusações que ela respondia, os juízes declararam falta de provas em seis e a condenaram nas outras três por participação direta na morte de 182 prisioneiros, sendo 102 crianças, e a colaboração no homicídio de outras mil pessoas. Em 1981 ela foi condenada a prisão perpétua. Foi o mais longo processo julgado na Alemanha Ocidental. Em 1996 Hermine foi lebertada devido a problemas de saúde, os quais, inclusive, levaram à amputação de uma perna. Três anos depois ela faleceu, aos 79 anos.
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