Em abr./1943 o Alto Comando das Forças Aliadas concluiu que a derrota das forças alemãs no norte da África era questão de semanas. Em retirada constante o exército ítalo-germânico ficou espremido na Tunísia pelas tropas britânicas vindas do leste (Líbia) e pelos norte-americanos do oeste (Argélia). Sem apoio aéreo e com o abastecimento de armas, combustíveis e mantimentos esgotado nada mais restaria senão uma rendição em massa. Todavia, qual seria o próximo passo estratégico na sequência ?
Essa pergunta incomodava os generais alemães, contudo eles sabiam que os aliados desembarcariam pelo Mediterrâneo em algum ponto ocupado por suas tropas, mas onde ? Grécia ? Sul da França ? Itália ? Onde concentrar reforços para impedir uma invasão ? Era preciso evitar uma nova frente na guerra pois a situação na Rússia não ia nada bem.
O serviço secreto britânico no intuito de confundir a decisão dos alemães forçando-os a transferir soldados para longe do local correto do desembarque criou uma farsa formidável, uma isca coberta de detalhes falsos que o inimigo haveria de morder. Foi a Operação Mincemeat, cuidadosamente planejada para evitar um outro fracasso como o ocorrido no ano anterior em Dieppe.
A operação estava centrada na criação de um homem falso chamado "Major Willian Martin" da Marinha Britânica que trazia consigo documentação ultra-secreta relacionada a futuras ações de desembarque na ilha da Sardenha e sul da Grécia, contudo o avião no qual ele viajava teve problemas e caiu no Mar Mediterrâneo, próximo a costa espanhola. Muito embora o "major" estivesse de colete salva-vidas faleceu afogado no desastre com a maleta que continha os tais documentos presa ao seu pulso por uma corrente. Uma vez ele sendo resgatado pelos espanhóis, simpáticos a Hitler, o corpo seria entregue aos nazistas para checagem da história. Mas como enganar a enorme rede de espiões que trabalhava para o governo alemão ? A isca deveria ser a mais próxima da verdade. Todos os documentos que ele portava eram verdadeiros, produzidos dentro do quartel general, assinados pelos comandantes regionais, com carimbos e numeração também verdadeiros. Além disso o serviço secreto tratou de dar vida pessoal ao "major". A farda que ele usava trazia seu nome bordado, colocaram em seus bolsos bilhete de sua noiva, tickets de teatro da véspera do desastre e até nota de lavandeira. Tudo poderia ser checado que haveriam de dar crédito ao achado. Um patologista foi convocado para escolher o corpo de algum cidadão recentemente falecido que protagonizasse o militar falso. Encontraram um mendigo alcoólatra que morrera de pneumonia que tinha as caracteristicas necessárias para encenar a isca.
Na noite de 30/04/1943 um submarino britânico lançou no local previamente planejado uma cápsula que se abriria no mar. Quase ninguém a bordo sabia o que havia dentro. Um pescador espanhol encontrou o corpo trazido pela maré e avisou as autoridades navais que, de imediato, comunicaram o evento aos nazistas. De fato o serviço de espionagem alemão verificou a exatidão das informações que o corpo trazia e, após uma semana de contra-informações, o Alto Comando Aliado recebeu notícias de que grande contingente de tropas alemães estava sendo transferido para a Grécia, Córsega e Sardenha. Até mesmo blindados que se preparavam para a ofensiva em Kursk, na Rússia, haviam sido remanejados. O inimigo havia mordido a isca !
No dia 13/05/1943 o Grupo de Exércitos África se rendeu e os aliados passaram a acreditar num desembarque com pouca resistência na Sicília. A Operação Husky deu-se em 09/07/1943 e pegou o inimigo de surpresa. Os defensores italianos e alemães não conseguiram deter a grande quantidade de soldados e material desembarcado. Dois meses depois o governo italiano ajustou uma rendição secreta com os aliados e Mussolini foi deposto. O país mais fiel aliado de Hitler agora lhe declarava guerra. Foi um duro golpe contra o Führer. A experiência adquirida garantiu o sucesso um ano mais tarde na invasão da Normandia.
Essa interessante estória foi, anos depois, escrita em livro e tornou-se filme.
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