segunda-feira, 8 de abril de 2013

O Pior Dia da França


A Polônia havia sido invadida e derrotada duplamente pelos exércitos germânico (vide ordem de batalha aqui) e soviético. No início da ofensiva, Inglaterra e França declararam guerra à Alemanha depois de jurarem apoio militar em caso de ataque aos poloneses, entretanto ficaram de braços cruzados assistindo a queda de Varsóvia e a destruição de suas forças armadas. Em menos de um mês a Polônia foi repartida entre seus conquistadores e começava o período mais negro de sua história. 
A França perdera a grande oportunidade de atacar a Alemanha no momento em que esta se preocupava com a Polônia, pois seus comandantes ainda tinham conceitos militares da 1ª Grande Guerra. Valorizavam linhas de defesa fixa (Linha Maginot¹) com trincheiras e não evoluíram efetivamente em tecnologias modernas com carros blindados velozes e aviões bombardeiros de altitude e de mergulho.
Na fronteira franco-alemã os exércitos de ambos os países, mobilizados, entravam numa fase de expectativa e observação que valeu o apelido de "guerra monótona". Os ingleses enviaram ao território francês sua Força Expedicionária (dez divisões sob o comando do Marechal John Gort). Este período durou longos sete meses e deu a impressão que a guerra havia terminado.
No dia 10/05/1940 Hitler assombrou o mundo com o ataque avassalador (vide ordem de batalha aqui) que atravessou a floresta belga das Ardenas, considerada até então intransponível devido a natureza do terreno. A tática blitzkrieg que já havia sido vitoriosa contra os poloneses, agora era novamente usada contra os aliados ocidentais. O golpe fulminante se deu exatamente onde as defesas estavam mais enfraquecidas e a grande mobilidade dos carros de combate panzer apoiados pela Luftwaffe conseguiu facilmente transpor, no dia 14/05, a linha de defesa em Sedan. No 8º dia de batalha o Comandante-supremo das Forças Armadas francesas, General Maurice Gamelin (1872-1958), foi substituído pelo General Maxime Weygand (1867-1965), mas a esta altura já parecia ser tarde. Em 27/05 as tropas alemães chegaram à costa francesa do Canal da Mancha, próximo a Calais, deixando cercados milhares de soldados franceses e britânicos naquilo que ficou conhecido na história de estratégia militar como "golpe de foice". Holanda e Bélgica, países que tiveram suas neutralidades violadas por estarem no caminho dos planos alemães, depuseram armas (15 e 28 de maio), deixando a situação ainda mais desesperadora para os exércitos aliados cercados. O derrotismo tomava conta do moral da tropa na medida que a possibilidade de um contra-ataque se desvanecia.
Tudo levava a crer que haveria uma rendição em massa, contudo, inesperadamente, Hitler deu sua "ordem de parada" a fim de aproximar a linha de abastecimento e aguardar as tropas que vinham da retaguarda em ondas posteriores. A tarefa de aniquilar os soldados aliados no cerco ficaria a cargo da Luftwaffe. Foi um grande erro! Este precioso tempo foi explorado de forma magnífica pelos britânicos que conseguiram evacuar pelo Canal mais de 338 mil homens cercados, dos quais 115 mil franceses. A "retirada de Dunquerque" (27/05 a 03/06) entrou para a história militar como um grande feito, porém sensatamente Churchill diria mais tarde - Não se ganham guerras com honrosas evacuações! O recém empossado Primeiro Ministro britânico parecia ser o único com lucidez suficiente para entender os fatos que aconteciam. O milagre em Dunquerque não deveria ser visto com demasiada euforia; dias piores estavam por vir.
Pouco tempo depois que as últimas embarcações chegavam a Grã-Bretanha trazendo os soldados evacuados da costa francesa a Alemanha lançou a ofensiva final para aniquilar a França. Eram 140 divisões alemãs (10 blindadas) contra apenas 50 divisões francesas e uma britânica. O resultado era previsível. A capital foi bombardeada no mesmo dia aterrorizando o povo e matando centenas de civis. No dia 6/06 o invasor rompeu a linha de defesa perto do rio Somme. Cinco dias depois Paris estava com o inimigo à sua porta e o governo fugiu para o interior do país. A resistência ia abaixo em todas as frentes. No dia 13/06 o General Weygand concluiu que o desastre era irremediável e deu ordens para a retirada geral de seu exército. No dia seguinte Paris foi declarada cidade aberta e grande parte da população abandonou seus lares buscando refúgio alhures. A bandeira alemã foi hasteada na Torre Eiffel por soldados do 18º Exército Alemão comandado pelo General von Küchler. O premier Paul Reynaud (1878-1966) pediu demissão no dia 16/06 e o veterano Marechal Philipe Pétain², herói da 1ª Grande Guerra, assumiu o governo cujo primeiro ato foi negociar as condições do armistício. Em 40 dias a França se ajoelhava diante do poderia nazista. Era o fim!
Para Hitler os franceses deveriam experimentar humilhação ainda maior. O ditador alemão jamais aceitou a derrota da Alemanha na 1ª Guerra e esta sombra o acompanhava por mais de 20 anos. Chegara a hora da revanche. No dia 21/06 o armistício foi assinado no mesmo vagão de trem que havia sido utilizado na rendição alemã em nov./1918. A cerimônia durou pouco mais de 10 minutos, tempo suficiente para que o General Keitel, Comandante-chefe do OKW, lesse o preâmbulo do documento para a delegação francesa presente. As delegações das partes envolvidas ainda passaram quatro dias discutindo os detalhes de cada artigo do tratado, entretanto os alemães foram irredutíveis e a França se viu forçada a aceitar todos. O artigo mais humilhante foi a divisão de seu país ao meio: o norte, que concentrava as cidades industriais e a costa do Atlântico, seria ocupado pelos nazistas e o sul ficaria sob o domínio francês com capital na cidade de Vichy governado por Pétain. O pior dia da França, 25/06/1940, é considerado dia de luto nacional.



Notas:
¹ A Linha Maginot construída na década de 30 constituía-se de uma série de fortificações de concreto e aço interligadas por túneis destinada a defender a fronteira norte-nordeste da França. Estendia-se por mais de 100 Km, do norte da Suíça ao sul da floresta das Ardenas, na Bélgica. Deu aos franceses uma falsa sensação de segurança, pois no ataque nazista foi simplesmente flanqueada e cercada.
² Henri Philippe Pétain (abr./1856-jul./1951) foi chamado às pressas de Madrid, em 15/05, para reorganizar a defesa contra o ataque nazista e salvar a desesperadora situação do exército francês. Aos 84 anos, embora considerado herói da última guerra, o novo Ministro de Estado nada pode fazer de concreto, pois ainda acreditava nos princípios tradicionais das táticas militares. Tinha horror as ofensivas mortíferas que o tornaram um brilhante "soldado de defesa". Esta visão acabou contagiando os oficiais mais jovens que não haviam se preparado adequadamente para as revolucionárias táticas de ataque e as modernas armas de guerra da Alemanha. Como Chefe de Estado do governo de Vichy (jun./1940-ago./1944) colaborou com os nazistas e passou à História como traidor da França. Terminada a guerra foi julgado e condenado à morte, contudo, devido a idade avançada, teve a pena comutada em prisão perpétua. Morreu no ostracismo aos 95 anos.

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