terça-feira, 9 de abril de 2013

Mussolini Mostra Sua Face - I

Benito Almicare Andrea Mussolini (jul./1883-abr./1945) nasceu num pequeno lugarejo perto da aldeia de Predappio, na Romanha, região nordeste da Itália. Aos 18 anos recebeu o diploma de professor, contudo sua vocação era o jornalismo e a política. Ingressou no Partido Socialista Italiano (PSI) e, em dez./1912, foi nomeado editor do jornal oficial do partido. Seus artigos, já conhecidos, com teor revolucionário e radical, passaram a ter repercussão nacional. Em out./1914 foi expulso do partido por apoiar a entrada da Itália na 1ª Grande Guerra, contudo, em maio do ano seguinte, seu país decidiu ir à luta ao lado da França, Inglaterra e Rússia contra a Alemanha e o Império Austro-Húngaro. Certamente suas opiniões escritas influenciaram a opinião pública neste sentido. Foi convocado, mas sua participação no conflito mundial foi desprezível ao ferir-se acidentalmente em exercício de tiro e dispensado após a recuperação. Em mar./1919 fundou o Partido Fascista contrário ao socialismo crescente na política italiana. A luta de ideologias passou a ser violenta e até armada. Surgiram as tropas paramilitares conhecidas como "camisas negras" no seu partido. Seus adeptos ganharam força com a adesão dos trabalhadores anti-socialistas. Nas eleições de 1921 o partido de Mussolini saiu-se vencedor e as autoridades começaram a fornecer recursos às suas tropas. Foi nesse ambiente de inquietação que se deu a "Marcha sobre Roma", em out./1922, cujo resultado foi a indicação de Mussolini como Primeiro Ministro. Em dois anos de governo implantou a ditadura afastando os adversários com violência ou até morte, se necessário. Nascia Il Duce.
Quando Hilter chegou ao poder na Alemanha, em jan./1933, Mussolini estava no auge de sua escalada política. É compreensível, portanto, que o ditador nazista tenha se espelhado, desde a década de 20, no fascismo italiano como exemplo para seu próprio regime. Muitos aspectos haviam sido copiados do regime italiano: a saudação nazista com o braço erguido, o título Führer em analogia ao Duce, a marcha militar em passo-de-ganso e, nos primórdios do movimento,  a criação dos "camisas pardas" (SA) em alusão aos "camisas negras" fascistas. O que mais se assemelhou, sem dúvida, foi a tentativa do golpe nazista em Munique (Putsch), em nov./1923, com a "Marcha sobre Roma" fascista um ano antes. Além da afinidade ideológica, Hitler e Mussolini tinham grande admiração mútua, todavia ao longo do conflito mundial, que se seguiu, esse sentimento transformou-se em inveja, competição, menosprezo, desrespeito e até trapaças.
O primeiro encontro oficial entre os tiranos se deu em jun./1934, em Veneza, mas as diferenças sobre a  questão da anexação da Áustria ao Reich parecem ter lançado um balde de gelo no evento. As relações melhoraram em 1936 após a invasão italiana à Etiópia (nov./1935), a ocupação da Renânia pelo exército nazista e, o mais importante, a associação de ambos na luta ao lado dos nacionalistas do General Franco, durante a guerra civil espanhola. Em set./1937 a visita se inverteu. Mussolini foi recebido por Hitler em Munique numa suntuosa cerimônia que o deixou maravilhado com a transformação econômica e militar da Alemanha dos últimos anos. Dois meses depois a Itália assinou o Pacto Anticomintern já firmado por Alemanha e Japão, opondo-se ao comunismo internacional e à URSS. Ainda naquele ano a Itália retirou-se da Liga das Nações seguindo exemplo da Alemanha. O noivado entre as duas potências estava indo bem e o casamento se deu ao assinarem o Pacto de Aço, em mai./1939, no qual ambos comprometiam-se a ajudar um ao outro em caso de qualquer agressão militar. O Duce parece ter caído numa cilada, pois ficara claro que Hitler desejava a guerra a qualquer custo arrastando para o conflito seu aliado de sangue sem estar plenamente preparado para tal¹. Ao que tudo indicava a Itália de Mussolini ficara à sobra da Alemanha nazista.
Em 10/06/40 quando as forças nazistas davam o golpe final nos franceses e forçavam as tropas britânicas a abandonar o continente, Mussolini, numa atitude grotesca, declarou guerra à França e a Grã-Bretanha! O fez sem a menor cerimônia, pois sequer consultou o Grande Conselho Fascista em seu país. Segundo pensava, era preciso agir rapidamente já que a França estava prestes a depor armas. Conforme alguns autores ele teria dito a um de seus generais que apenas era necessário preparar-se para um conflito defensivo e contabilizar algumas mortes. Dessa forma teria assento garantido nas conferências de paz como vencedor e direito de abocanhar territórios do vencido. Ordenou um ataque para três dias no máximo embora seus generais tivessem solicitado 20 dias de preparativos. Foram reunidos às pressas e de improviso 700 mil homens armados e aproximadamente 200 tanques leves e obsoletos que marcharam, no dia 20/06, pela fronteira sudeste da França. Neste dia as tropas francesas já haviam sido derrotadas pelas Wehrmacht e o armistício já estava em andamento. Foram três dias de ataque nos quais os italianos penetraram apenas 8 km no território francês onde perderam cerca de 630 homens e contabilizou-se 2.600 feridos. O Exército Alpino francês, estacionado na região, com um efetivo muito menor, perdeu somente 40 soldados e somou 84 feridos. No dia 25/06 as tropas francesas foram forçadas a capitular devido aos acontecimentos em Paris. Mussolini ficara impossibilitado de continuar combatendo, contudo o desempenho pífio das suas tropas trouxe seus generais à realidade - seu medíocre ataque houvera sido barrado por uma pequena formação de defesa já "derrotada". E o pior de tudo - suas reivindicações territoriais ao grande vencedor da França, Adolf Hitler, foram desdenhosamente ignoradas! A contragosto teve de contentar-se apenas com a curta faixa de 8 km conquistada ao enorme preço em vidas humanas. Uma grande trapalhada do Duce.

Notas
¹ No começo da 2ª Guerra Mundial as condições das forças armadas italianas eram sofríveis: a maior parte das peças de artilharias eram anteriores à 1ª Grande Guerra, não havia munição suficiente, apenas 1/3 da aviação tinha condições de vôo, existiam apenas 10 divisões em condições de lutar, o vestuário era inadequado e insuficiente, os pilotos eram inexperientes e mal treinados, não havia aviões de reconhecimento, o combustível era escasso e racionado, não existiam oficiais superiores com experiência em táticas modernas de combate, a Marinha, embora possuísse uma frota razoável, não interagia com o Exército e vice-versa. Mussolini previu a Hitler três anos o tempo necessário para ter condições de entrar em qualquer conflito armado.

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