terça-feira, 11 de março de 2014

O Motim dos Pilotos


No começo de 1943 quando o 6º Exército alemão foi cercado e derrotado pelos soviéticos em Stalingrado, Hitler, como era seu habitual, procurou um responsável pelo retumbante fracasso. A escolha recaiu sobre o Marechal Hermann Göring, comandante da Luftwaffe, o qual, além de estar vagarosamente distanciando-se do poder, não conseguiu dar conta da enorme tarefa de abastecer  os  soldados  do 6º  Exército.  A  grande
distância dos pontos de embarque, o frio intenso e, principalmente, o obstinado entusiasmo do Exército Vermelho, que não deu trégua aos aviões alemães de transporte de materiais, armamentos e suprimentos, traduziu-se na maior derrota da história militar da Alemanha.
Ainda durante o ano de 1943 outros fatos marcantes derrubaram definitivamente a reputação do gorducho Marechal - a perda do norte da África em maio e o desembarque dos anglo-americanos na Sicília em julho. Contudo o pior estava por vir.
Em junho do ano seguinte a invasão da Normandia pelos aliados, sem oposição aérea, abrindo a tão esperada 2ª frente da guerra, e a retomada da França nos dois meses seguintes levou o ditador germânico a acusar o Marechal de ser o responsável direto pela possível derrota da Alemanha. Este panorama caótico, em fins de 1944, agravado pela devastação das grandes cidades alemães nos bombardeamentos aliados, atormentava o Alto Comando das Wehrmacht. A guerra aérea estava perdida!
Göring tratou de transferir sua irresponsabilidade para os pilotos de caça, acusando-os publicamente de terem falhado em sua missão. Indignado, um grupo dos mais valentes e antigos comandantes de ala (comodoros) levou suas reclamações ao General Galland, comandante da Força de Caças da Luftwaffe. Uma reunião foi marcada e o desfecho foi terrível. Göring não se deixou impressionar pelas ponderações do grupo que insistia em dizer que as falhas vieram do Alto Comando da Luftwaffe e reafirmou sua acusação agora agravada por traição e covardia. Contava agora com o apoio de Adolf Hitler. Galland foi afastado do comando de caças e colocado sob investigação da Gestapo. Os demais pilotos seriam levados a julgamento sumário por Corte Marcial, acusados de subversão. Parecia que a carreira deles estava encerrada e suas honras somente ficariam imunes com o suicídio forçado.
Tudo caminhava para este desfecho quando, apelando para o pouco bom senso que ainda lhe restava, Hitler avaliou que este fim poderia ser trágico para a arma aérea como um todo. Göring conjeturou que a melhor solução seria Galland "morrer em combate".
Uma nova oportunidade seria dada ao líder "insurgente" e seu grupo. Foi-lhe permitida a formação de uma ala especial equipada com caças à jato Me 262 com o objetivo de repelir os bombardeiros aliados sobre as cidades alemãs. Nasceu então a JV 44 (Jagdverband 44) que em final de março de 1945 começou a operar com 50 renomados pilotos. Contudo o final da guerra se aproximou e, apesar do grande sucesso operacional da JV 44 em combate (taxa de abate 4 por 1), a rendição foi inevitável.

Os principais pilotos envolvidos no "motim" foram:
Tenente-general Adolf Galland (vide bio aqui)
Coronel Günther Lützow (vide bio aqui)
Coronel Josef Priller (vide bio aqui)
Coronel Hermann Graf (vide bio aqui)
Coronel Gustav Rödel (vide bio aqui)
Coronel Johannes Steinhoff (vide bio aqui)
Coronel Johannes Trautloft (vide bio aqui)
Coronel Eduard Neumann (vide bio aqui)
Tenente-coronel Gerhard Michalski (vide bio aqui)
Tenente-coronel Helmutt Bennemann (vide bio aqui)

Lützow morreu em combate aéreo em 24/04, Galland e Steinhoff foram feridos na mesma época, sendo o último tão seriamente que carregou cicatrizes no rosto para o resto da vida. Os demais sobreviveram  a guerra. Assim se encerrou mais um capítulo negro da história do Marechal Göring que tentou arranjar um bode expiatório para seu fracasso como mandante máximo da Luftwaffe.

Steinhoff no pós guerra



Nenhum comentário:

Postar um comentário