quarta-feira, 20 de julho de 2016

A BOMBA

 
Há 72 anos atrás


(20/07/1944)

Os grupos conspiradores na Alemanha não eram poucos, mas um em especial, nascido dentro das Forças Armadas em 1938, vinha alimentando a ideia de assassinar Hitler e colocar um fim na guerra. Pelo menos dez tentativas tinham falhado até junho de 1944.

Nesta ocasião a situação militar germânica era desalentadora. Na frente oeste os aliados desembarcaram nas praias da Normandia e venceram facilmente a Muralha do Atlântico, empurrando as defesas para o continente. No leste os russos acabavam de lançar uma grande ofensiva de verão que somente se deteria diante de Berlim. Na Itália os defensores, apesar de intensa luta, não detiveram os aliados que logo tomariam Roma. A outrora orgulhosa Luftwaffe não se fazia mais presente nos céus deixando as cidades alemãs à mercê dos bombardeios diários, trazendo pânico a população. A guerra marítima havia sido abandonada devido à grande perda de submarinos e suas tripulações. E o pior – em todas as frentes não havia possibilidade de reforços ou reposições.
O Alto Comando Militar tentava, a todo custo, inutilmente, aconselhar o Comandante Supremo nazista que a derrota era iminente e que era necessário dar paradeiro naquela agonia. Contudo Hitler não quis saber de qualquer proposta de retirada e exigiu que cada soldado lutasse até o último cartucho. Totalmente fora da realidade, ainda encontrava argumentos e encorajava seus ouvintes a acreditarem nas “armas milagrosas” (bombas V-1 e os caças a jato) que vinham sendo desenvolvidas e mudariam o curso da guerra. Não dava atenção as advertências dos seus marechais e ainda procedeu substituições no comando da frente oeste.

Coronel Stauffenberg

Era a hora de agir dos conspiradores, pois uma ótima oportunidade lhes havia caído no colo. O homem chave da resistência, o recém-promovido Coronel Klaus von Stauffenberg (vide bio aqui) foi nomeado Chefe de Estado-Maior do Exército de Reserva. Este posto lhe dava acesso direto, na ausência de seu superior imediato – Coronel-general Fromm (vide bio aqui), às reuniões rotineiras convocadas pelo líder nazista. A intenção do grupo era plantar uma maleta-bomba próxima ao Führer numa destas ocasiões.

A primeira oportunidade ocorreu em 11 de julho na casa de campo de Hitler nos Alpes bávaros (vide detalhes aqui). O plano consistia em liquidar na mesma ocasião os três homens mais poderosos do regime - Hitler, Göring e Himmler. Isto garantiria o sucesso do golpe (Operação Valkyrie) para derrubar o regime que se desenrolaria depois em Berlim. Todavia Himmler não esteve presente e o plano foi abortado.


Stauffenberg próximo ao ditador nazista

Nova chance surgiu quatro dias depois, desta feita no Quartel General do Führer (Toca do Lobo), em Rastenburg (vide detalhes aqui), na Prússia Oriental. Os líderes do movimento decidiram que não mais deveriam perder a oportunidade de eliminar Hitler mesmo sem a presença dos outros dois alvos. Para frustração dos conspiradores a permanência do líder nazista na conferência militar durou menos de cinco minutos o que impediu que a maleta que trazia a bomba fosse colocada. O dispositivo que acionava o artefato devia ser preparado com dez minutos de antecedência.
Com mais este fracasso, a impaciência tomou conta do ânimo dos conjurados. A Gestapo andava agindo com implacável brutalidade contra outros grupos antinazistas e até mesmo contra militares das Wehrmacht ligados ao movimento ou simplesmente suspeitos. Era preciso levar o plano adiante.

A sala de reunião e seus participantes

Posição de cada participante na mesa:
1 - Adolf Hitler
2 - Tenente-general Adolf Heusinger (Chefe de Operações no E-M Geral do Exército e Chefe de E-M Geral do Exército) - vide bio aqui.
3 - General-de-aviação Günther Korten (Chefe de E-M Geral da Luftwaffe) - vide bio aqui.
4 - Coronel Heinz Brandt (Vice-Chefe de Operações no E-M Geral do Exército) - vide bio aqui. 
5 - General-de-aviação Karl-Heinrich Bodenschatz (Oficial-de-ligação da Luftwaffe junto a A. Hitler) - vide bio aqui.
6 - Tenente-coronel Heinz Waizenegger (Ajudante de W. Keitel)
7 - Tenente-general Rudof Schmundt (Ajudante-chefe das Wehrmacht junto a A. Hitler) - vide bio aqui.
8 - Tenente-coronel Heinrich Borgmann (Ajudante do Exército junto a A. Hitler) - vide bio aqui.
9 - General-de-infantaria Walter Buhle (Chefe da Seção de Organização do OKH²) - vide bio aqui.
10 - Contra-almirante Karl-Jesko von Puttkamer (Ajudante da Marinha junto a A. Hitler) - vide bio aqui.
11 - Estenógrafo civil Heinrich Berger
12 - Capitão-do-mar Heinz Assmann (Oficial-de-ligação naval no OKW¹)
13 - Major Ernst John von Freyrend (Ajudante de W. Keitel)
14 - Major-general Walter Scherff (Historiador Militar) - vide bio aqui.
15 - Contra-almirante Hans-Erich Voss (Oficial-de-ligação da Marinha junto a A. Hitler) - vide bio aqui.
16 -Capitão-SS Otto Günsche (Ajudante pessoal de A. Hitler)
17 - Coronel Nikolaus von Below (Ajudante da Luftwaffe junto a A. Hitler)
18 - Tenente-general-SS Hermann Fegelein (Oficial-de-ligação do Reichsführer-SS junto a A. Hitler) - vide bio aqui.
19 - Estenógrafo civil Heinz Buchholz
20 - Major Herbert Büchs (Ajudante de A. Jodl)
21 - Franz Edler von Sonnleithner (diplomata representante do Ministério das Relações Externas junto a A. Hitler)
22 - General-de-artilharia Walter Warlimont (Vice-chefe de Operações no E-M Geral do OKW¹) - vide bio aqui.
23 - Coronel-general Alfred Jodl (Chefe de Operações no E-M Geral do OKW¹) - vide bio aqui.
24 - Marechal-de-campo Wilhelm Keitel (Chefe do OKW¹) - vide bio aqui.
Obs.: morto no atentado ou em consequência dele. ¹ Alto Comando das Wehrmacht. ² Alto Comando do Exército.

Stauffenberg foi chamado novamente à Toca do Lobo para outra reunião em 20 de julho às 12:30 h. Desta vez parecia que os acontecimentos estavam a favor do grupo que tencionava liquidar o chefe nazista. A conferência já havia se iniciado quando o Coronel entrou na sala de mapas portando sua maleta-bomba com o dispositivo para a explosão já acionado. Tomou seu lugar à mesa, de pé, rodeada de 24 homens de todas as armas, a dois metros de Hitler. Alguns minutos haviam se passado e, caso Stauffenberg quisesse escapar vivo, deveria agir com rapidez. Colocou a pasta no chão (entre as posições 2 e 4 no diagrama acima) encostada num dos pesados pés da mesa³ e afastou-se devagar sem ser notado. Havia avisado ao telefonista, antes de entrar na sala, que aguardava uma ligação urgente de Berlim. Era o pretexto que criou para escapulir. Cinco minutos depois a bomba explodiu.
Obs.: ³ O Coronel Brandt, morto no atentado, após a saída furtiva de Stauffenberg do recinto, mudou a maleta de sua posição, colocando-a no outro lado do pé da mesa. Este simples gesto parece ter salvo a vida do ditador nazista, pois a grande base de carvalho agora se interpunha entre a explosão e seu alvo.

A sala de conferências


Destruição total

 Ao deixar o local de carro com seu ajudante de ordens, entretanto ainda nas proximidades da barraca onde se realizava a reunião, Stauffenberg assistiu a explosão, não lhe restando a menor dúvida de que ninguém ali dentro poderia ter escapado. Desvencilhou-se do forte esquema de segurança do QG e rumou para o aeródromo local onde um avião já o aguardava para levá-lo com urgência a Berlim.

Chegou eufórico à capital do Reich perto das 16 h, porém para grande consternação sua observou nos demais conspiradores uma total falta de ânimo, pois não haviam chegado notícias do QG que confirmassem a morte do ditador.

calça de A.Hitler em frangalhos

Embora muito abalado e com pequenos ferimentos, o Comandante Supremo havia sobrevivido! Dois homens morreram na hora, outro no dia seguinte e outro, tempos depois, no hospital. Quase todos os demais, de alguma forma, saíram feridos com maior ou menor gravidade. Os acontecimentos que se seguiram foram catastróficos para os membros da conspiração. Stauffenberg logo foi considerado o principal suspeito devido a sua estranha conduta. Enquanto isso em Berlim o Coronel se esforçava para levar adiante o golpe planejado. Quando Hitler se inteirou do que estava ocorrendo, começou a gritar como um louco e anunciou que prenderia todos os traidores e os liquidaria sem piedade. Mais uma vez cumpriu sua palavra.

Aquele dia na capital se desenrolou em grande agitação e muitas dúvidas entre os que participaram da conspiração e os que ainda, embora céticos, recebiam ordens daqueles. Alguns que conheciam o golpe, mas não se mostravam muito animados, ou seja, colocavam-se “em cima do muro”, rapidamente optaram por agir contra os golpistas. O Ministro da Propaganda, Josef Goebbels, chamou para si a responsabilidade de controlar a situação e, no momento em que estava para ser preso por um batalhão sob as ordens de um dos conspiradores (vide detalhes aqui), falou com Hitler por telefone e colocou na linha o comandante (vide detalhes aqui) daquela unidade ... foi o golpe de mestre. A partir de então a conspiração caiu como um castelo de cartas. Stauffenberg e outros cinco integrantes ativos do movimento foram presos ainda naquela noite sendo quatro deles, inclusive Stauffenberg, fuzilados pouco depois da meia-noite.

A vingança estava apenas no começo. Nos dias seguintes houve uma onda de prisões feitas pelas SS, seguidas de confissões sob intensas sessões de tortura. Julgamentos sumários foram feitos às pressas e sentenças de morte executadas por meios cruéis. Apenas vinte dias após a explosão no QG de Hitler, nada menos de oito líderes do movimento antinazista foram executados, dos quais um marechal de campo e três generais. Ao todo foram quase cinco mil condenações à morte entre sete mil prisões que se estenderam até quase o final da guerra. Muitos preferiram o suicídio de honra ou foram persuadidos a fazê-lo como, por exemplo, o mais condecorado marechal na linha de frente e uma lenda no exército alemão: Erwin Rommel (vide bio aqui). Pouquíssimos escaparam à fúria insana do ditador.

O Exército alemão havia sido atingido em cheio e, para grande humilhação de seu valoroso corpo de oficiais, viu, sem que nada pudesse ser feito, dezenas de suas mais altas patentes serem levadas para as prisões da Gestapo e depois assassinadas. Esse melancólico desfecho do golpe fez prolongar a guerra por mais dez meses, arrastando outras milhares de mortes em seu caminho e culminando com a destruição total da Alemanha.

Obs.: Integrantes do movimento conspirador, vide detalhes aqui.


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