A eminência parda
Martin Bormann foi uma das figuras mais controversas do 3º Reich. Odiado por quase todos os políticos mais próximos de Hitler, quando este assumiu o poder, e totalmente ignorado pelos generais. Mesmo com esta péssima reputação conseguiu total confiança do Führer.
Bormann nasceu em Wegeleben, no estado da Saxônia-Anhalt, em jun./1900, filho de um funcionário público dos correios. Não se dedicou aos estudos como deveria e abandonou cedo a escola indo trabalhar numa fazenda. Entediado com o trabalho no campo voluntariou-se no Exército logo que completou dezoito anos, devido às necessidades da 1ª Grande Guerra. Muito jovem sequer chegou a ser enviado ao front, uma vez que o conflito mundial logo terminou sem que ele tivesse visto ação de perto.
De volta ao trabalho agrícola juntou-se ao Freikorps¹ de Mecklenburg onde conheceu Rudolf Höss² (vide bio aqui) tornando-se um agitador brutal assim como tantos outros desocupados que perambulavam pelas cidades alemãs em meio ao sofrimento do povo que pagava alto preço social pela derrota na guerra.
Em mai./1923 envolveu-se no assassinato de um professor espancado até a morte. Foi condenado a um ano de prisão e ao sair filiou-se ao incipiente Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP). Em set./1929 casou-se com uma jovem de 19 anos, Gerda, filha de um advogado que trabalhava para a corte jurídica do partido. Sua proximidade com Hitler já era notória nesta época dado que este foi seu padrinho na união matrimonial. No ano seguinte foi nomeado administrador do fundo de seguro de acidentes pessoais que cobria os integrantes do partido feridos em agitações políticas. Em abr./1931 passou a membro do comitê que administrava os fundos do partido em Munique. Sua importância nos bastidores da agremiação política só crescia até que em outubro daquele ano foi indicado para trabalhar na Chancelaria do NSDAP recebendo ordens diretas de Adolf Hitler.
Em jul./1933, após a subida do partido no governo, Bormann foi feito chefe de gabinete de Rudolf Hess, (vide bio aqui) nada menos do que o substituto de Hitler no NSDAP em âmbito nacional e o terceiro no Reich. Nesta posição ele acumulou diversos cargos de prestígio dentro do partido e do governo. Hitler o considerava um parvo, mas sua eficiência em trabalhos complicados lhe servia como uma luva. Enquanto uns levavam dias para executar uma ordem sua, Bormann a cumpria em menos de duas horas sem esquecer-se de nada. A confiança do ditador era tanta que lhe delegou a administração de seus recursos pessoais. A partir de então passou a despertar a inveja e o ódio de muitos daqueles que cercavam o Führer. Bormann com acesso direto a ele fazia um trabalho sorrateiro de destruir a reputação de seus inimigos. Tornou-se um fomentador de intrigas e ganhou um apelido pelas costas nada honroso - a eminência parda.
Coube também a Bormann, entre abr./1937-abr./38, a administração da mão de obra utilizada na construção, bastante arriscada, da casa de chá nos alpes bávaros (Ninho da Águia - vide detalhes aqui) bem como, anteriormente, a desapropriação de todos os moradores antigos das redondezas para construção de um imenso complexo de residências, hotéis, quartéis e etc., vizinhos ao Berghof (vide detalhes aqui). Nesta tarefa ele agiu com brutalidade, expulsando os campesinos e pagando-lhes valor irrisório por suas propriedades. Andava armado e rodeado de capangas.
Com o início da 2ª Guerra, Hitler o tinha como o mais próximo colaborador. O líder nazista não era chegado a dar ordens por escrito. Fazia isso pessoalmente ou por telefone. Cabia a Bormann transformar estas ordens verbais em documentos datilografados, assinados e divulgados para cumprimento imediato. Obviamente ele acrescentava um tom ainda mais exigente naquelas dirigidas a seus desafetos pessoais.
Em mai./1941, após a viagem insana de Rudolf Hess (vide bio aqui) para a Inglaterra, Bormann foi feito chefe da Chancelaria do NSDAP e dois anos depois designado secretário pessoal de Hitler, tarefa que ela já vinha desempenhando. Trabalhou incansavelmente para fortalecer o prestígio do partido diante dos generais e da chefia das SS. Permaneceu nestas funções até o fim da guerra.
Não há registro algum na literatura existente que indique enriquecimento pessoal de Bormann em razão da posição de destaque que atingiu durante o 3º Reich. Sabe-se que ele construiu uma grande casa no complexo habitacional acima descrito para abrigar sua enorme família - Gerda, sua esposa, deu-lhe dez filhos que frequentavam o Berghof e brincavam com o "tio Adolf". Cabe acrescentar, contudo, que ele tivera diversos casos extraconjugais, alguns dos quais de conhecimento público e de sua mulher.
Em meados de jan./1945, com a guerra já perdida, Hitler e seus mais próximos colaboradores, Bormann entre eles, mudaram-se para o bunker subterrâneo da Chancelaria em Berlim. Fisicamente alquebrado pelo peso dos medicamentos que recebia em profusão assim como pelo desgosto psicológico que o fracasso das seguidas derrotas militares lhe trouxe, o ditador germânico ficara ainda mais dependente de Bormann, um dos poucos a quem ele depositava total confiança. Nos últimos dias antes do suicídio de seu mestre, "a eminência parda" ainda teve a chance de colocar ainda mais lenha na fogueira de seu ódio contra dois de seus principais rivais - Göring e Himmler. O primeiro reivindicara, por escrito, a sucessão do tirano e o segundo, secretamente, entrara em contato com os aliados na tentativa de selar um armistício salvador. Bormann, ao tomar conhecimento destes fatos, já que uma de suas atribuições era filtrar tudo que o Führer recebia, tratou logo de persuadir a sua mente já debilitada alegando tratar-se de dois atos de altíssima traição. Na confusão generalizada daqueles terríveis dias, quando as tropas do Exército Vermelho já estavam próximas do abrigo, Hitler teve um dos seus piores acessos de fúria cujos gritos foram ouvidos até pelas sentinelas do lado de fora do bunker. Göring e Himmler receberam ordens de prisão onde quer que fossem encontrados e já estariam destituídos de todos os cargos que ocupavam no governo e no partido. Fegelein (vide bio aqui), ajudante de Himmler, que ainda se encontrava na capital, teve destino ainda mais nefasto. Preso pelas SS, quando já se preparava para deixar a Alemanha, foi trazido à Chancelaria e sumariamente fuzilado por deserção sem julgamento.
No dia seguinte ao suicídio de Hitler, um grupo de fugitivos do bunker, inclusive Bormann, tentou escapar dos soviéticos para entregar-se aos aliados ocidentais³, mas a ação não deu certo e o fomentador de intrigas do Reich desapareceu misteriosamente. Alguns dos que conseguiram sobreviver afirmaram terem visto Bormann estendido próximo a uma ponte cercada pelos russos, mas o corpo nunca foi localizado.
O mistério do desaparecimento ou morte de Bormann durou quase três décadas. No Tribunal Internacional de Nuremberg ele foi julgado e condenado a morte mesmo estando ausente.
Em dez./1972 uma obra civil escavando nas proximidades onde ele supostamente havia morrido, encontrou uma ossada que lhe foi atribuída e a medicina forense atestou a suspeita acrescentando que restos de cápsula de vidro também haviam sido achados dentro do maxilar. Em abril do ano seguinte a justiça declarou oficialmente que Bormann havia morrido ao tentar fugir do cerco soviético ingerindo veneno (prática muito comum entre militares e políticos de prestígio). Mais recentemente, em 1998, testes de DNA na ossada encontrada confirmaram, definitivamente, as conclusões de 1973. Assim termina a história de Martin Bormann, uma personalidade que até hoje inspira muita curiosidade.
Promoções:
30/01/37 General-SA
20/04/40 General-SS (Allgemeines)
Principais condecorações:
? Medalha da Ordem de Sangue do NSDAP
Principais posições:
??/07/33 - 12/05/41 Chefe de Gabinete de Rudolf Hess
10/10/33 - 01/05/45 Líder Nacional e Porta-voz do NSDAP
??/11/33 - 01/05/45 Deputado Federal pelo NSDAP
12/05/41 - 01/05/45 Chefe da Chancelaria do NSDAP
12/04/43 - 30/04/45 Secretário pessoal de Adolf Hitler
Em meados de jan./1945, com a guerra já perdida, Hitler e seus mais próximos colaboradores, Bormann entre eles, mudaram-se para o bunker subterrâneo da Chancelaria em Berlim. Fisicamente alquebrado pelo peso dos medicamentos que recebia em profusão assim como pelo desgosto psicológico que o fracasso das seguidas derrotas militares lhe trouxe, o ditador germânico ficara ainda mais dependente de Bormann, um dos poucos a quem ele depositava total confiança. Nos últimos dias antes do suicídio de seu mestre, "a eminência parda" ainda teve a chance de colocar ainda mais lenha na fogueira de seu ódio contra dois de seus principais rivais - Göring e Himmler. O primeiro reivindicara, por escrito, a sucessão do tirano e o segundo, secretamente, entrara em contato com os aliados na tentativa de selar um armistício salvador. Bormann, ao tomar conhecimento destes fatos, já que uma de suas atribuições era filtrar tudo que o Führer recebia, tratou logo de persuadir a sua mente já debilitada alegando tratar-se de dois atos de altíssima traição. Na confusão generalizada daqueles terríveis dias, quando as tropas do Exército Vermelho já estavam próximas do abrigo, Hitler teve um dos seus piores acessos de fúria cujos gritos foram ouvidos até pelas sentinelas do lado de fora do bunker. Göring e Himmler receberam ordens de prisão onde quer que fossem encontrados e já estariam destituídos de todos os cargos que ocupavam no governo e no partido. Fegelein (vide bio aqui), ajudante de Himmler, que ainda se encontrava na capital, teve destino ainda mais nefasto. Preso pelas SS, quando já se preparava para deixar a Alemanha, foi trazido à Chancelaria e sumariamente fuzilado por deserção sem julgamento.
No dia seguinte ao suicídio de Hitler, um grupo de fugitivos do bunker, inclusive Bormann, tentou escapar dos soviéticos para entregar-se aos aliados ocidentais³, mas a ação não deu certo e o fomentador de intrigas do Reich desapareceu misteriosamente. Alguns dos que conseguiram sobreviver afirmaram terem visto Bormann estendido próximo a uma ponte cercada pelos russos, mas o corpo nunca foi localizado.
O mistério do desaparecimento ou morte de Bormann durou quase três décadas. No Tribunal Internacional de Nuremberg ele foi julgado e condenado a morte mesmo estando ausente.
Em dez./1972 uma obra civil escavando nas proximidades onde ele supostamente havia morrido, encontrou uma ossada que lhe foi atribuída e a medicina forense atestou a suspeita acrescentando que restos de cápsula de vidro também haviam sido achados dentro do maxilar. Em abril do ano seguinte a justiça declarou oficialmente que Bormann havia morrido ao tentar fugir do cerco soviético ingerindo veneno (prática muito comum entre militares e políticos de prestígio). Mais recentemente, em 1998, testes de DNA na ossada encontrada confirmaram, definitivamente, as conclusões de 1973. Assim termina a história de Martin Bormann, uma personalidade que até hoje inspira muita curiosidade.
Promoções:
30/01/37 General-SA
20/04/40 General-SS (Allgemeines)
Principais condecorações:
? Medalha da Ordem de Sangue do NSDAP
Principais posições:
??/07/33 - 12/05/41 Chefe de Gabinete de Rudolf Hess
10/10/33 - 01/05/45 Líder Nacional e Porta-voz do NSDAP
??/11/33 - 01/05/45 Deputado Federal pelo NSDAP
12/05/41 - 01/05/45 Chefe da Chancelaria do NSDAP
12/04/43 - 30/04/45 Secretário pessoal de Adolf Hitler
Obs.: ¹ Corpos francos - grupos de mercenários nacionalistas do pós guerra que lutaram contra o comunismo e de cujas fileiras saíram diversos membros do Partido dos Trabalhadores Alemães. ² Não confundir com Rudolf Hess. Höss, mais tarde, seria o sanguinário comandante do mais terrível campo de extermínio nazista - Auschwitz. ³ Este era o pensamento comum dos envolvidos diretamente na guerra, soldados ou políticos, pois consideravam, acertadamente, que sendo capturados pelos russos o sofrimento seria muito maior devido ao espírito revanchista que existia no seio soviético em função dos crimes brutais cometidos pelos nazistas em suas terras, onde milhões foram executados.
Sempre à espreita |
O homem sombra |
Alguns de seus desafetos cara a cara |
A numerosa família ainda ia crescer |
Lado a lado |
Solidariedade após o atentado de 20/07/44 |
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