quinta-feira, 3 de julho de 2014

28 DE JUNHO DE 1914 - Tudo começou há um século atrás.


Francisco José
Francisco José (ago./1830-nov./1916), imperador da Áustria, aos 84 anos, doente, seria sucedido por seu sobrinho, o arquiduque Francisco Ferdinando (dez./1863-jun./1914). O herdeiro natural entrou para o Exército muito jovem e com apenas 31 anos atingiu o generalato. Em 1913 foi nomeado inspetor-geral de todas as Forças Armadas do Império Austro-húngaro, uma posição elevada que lhe daria o controle total em caso de guerra. Quando assumisse o trono prometia reformas políticas profundas com o objetivo de dar maior autonomia às nações existentes ao redor de sua coroa. Esta atitude confrontava as intenções de grupos minoritários radicais que desejavam a unificação de todos os povos eslavos do sul.
Francisco Ferdinando
Mas voltemos um pouco ao reinado de seu tio, Francisco José I. Como representante influente da dinastia dos Habsburgo, foi o responsável pela restauração da ordem no império e o domínio da Áustria na Confederação Germânica¹, por volta de 1849. Na mesma época também consolidou a hegemonia austríaca na Hungria e no reino da Lombardia. Quando assumiu a coroa húngara, em 1867, enfrentou a oposição dos eslavos que não aceitaram a dupla submissão e acabou fazendo algumas concessões. Em 1879 assinou acordo com o Império Alemão² ao qual juntou-se, três anos depois, a Coroa da Itália, formando-se, assim, a Tríplice Aliança. Em 1908 anexou a Bósnia-Herzegovina. A divisão étnica de tão vasto território teve consequências sérias dado que sérvios, croatas, checos, húngaros e outras nacionalidades menores iniciaram movimentos separatistas. Foram 68 anos de reinado, um dos mais duradouros da Europa.
Sofia e Ferdinando
Este era o panorama político na Europa central quando o arquiduque Francisco Ferdinando estava prestes a assumir o trono do Império Austro-húngaro. Casado em jul./1900 com Sofia da Baviera, procedente de uma linhagem inferior da nobreza austríaca, enfrentou uma série de resistências por parte daqueles, inclusive o imperador, que não aceitavam o enlace. A cerimônia só foi possível quando Sofia assinou um documento no qual abria mão de várias regalias da nobreza austríaca, extensiva inclusive a seus descendentes.
Momentos antes do atentado
Em jun./1914 o casal viajou para Sarajevo, capital da província da Bósnia-Herzegovina, território do Reino da Sérvia. Como estavam longe da sede da corte em Viena, foi uma forma do arquiduque homenagear Sofia que constantemente era proibida de acompanhar o marido em eventos públicos. Entretanto aquela cidade era um barril de pólvora, recheada de terroristas que desejavam a unificação dos povos eslavos para a formação da Grande Sérvia, o que seria difícil caso Francisco Ferdinando assumisse o trono da Áustria. A organização ultranacionalista conhecida por "Mão Negra", patrocinada pelos militares sérvios, convocou vários agentes para levarem a cabo um atentado contra o ilustre visitante. A primeira tentativa, falhou, embora a bomba lançada contra o carro no qual viajava o arquiduque tenha explodido próximo e ferido várias pessoas. Naquele mesmo dia, quando o herdeiro foi visitar os feridos no hospital, ocorreu a segunda e fatal tentativa. Um jovem anarquista³ aproximou-se a curta distância do carro e atirou no casal acertando o arquiduque no pescoço e Sofia, grávida, no abdome. Ambos morreram.
A Áustria remeteu ultimato à Servia com exigências absurdas que feriam a sua autonomia. Depois de aceitá-lo, em parte, o regente sérvio pediu apoio à Rússia. Esta acreditando que a Alemanha estava por trás da manobra ao lado dos austríacos, seus aliados, mobiliza velozmente suas tropas ao longo da fronteira. A Áustria considera o ultimato rejeitado e declara guerra à Servia. Alemanha e França também mobilizam seus exércitos e os acontecimentos seguem velozmente com declarações de guerra de lado a lado.
O assassinato do herdeiro da coroa austríaca foi o estopim que faltava para dar início, um mês depois, a um conflito armado de grande proporção que tinha raízes muito mais profundas e já vinha se desenhando há alguns anos. A corrida armamentista, o imperialismo, o forte sentimento nacionalista, o militarismo crescente e, principalmente, a série de alianças entre nações contribuíram para a eclosão da 1ª Grande Guerra.
O caro leitor pode estar se perguntando - por que um blog dedicado à 2ª Guerra Mundial haveria de postar as razões para o começo da 1ª Grande Guerra? Qual a relação? A resposta é muito simples: a meu ver a 2ª Guerra Mundial foi a continuação da 1ª Grande Guerra após uma trégua de 21 anos. Afirmo isso apresentando alguns ítens para reflexão:
1) Adolf Hitler lutou na 1ª Grande Guerra, contudo jamais aceitou a derrota da Alemanha fora do campo de batalha (a sua famosa expressão "punhalada nas costas");
2) O Tratado de Versalhes de jun./1919 impôs pesado sacrifício ao povo alemão e serviu de causa a todos os males que iriam ocorrer no pós guerra (inflação, desemprego, falta de perspectiva, submissão aos vencedores, perda de territórios, etc.);
3) O sentimento de revanchismo aos vencedores nasceu e cresceu junto com diversos partidos políticos na Alemanha, inclusive o NSDAP, que pregavam o fim daquele tratado como única forma de livrar o país das amarras do passado e voltar a prosperar;
4) Com o fim de quatro grandes impérios (Alemão, Otomano, Austro-húngaro e Russo), regimes totalitários foram gradualmente substituindo repúblicas frágeis na Alemanha, Áustria, Polônia, Rússia e Itália. Alguns deles marcados por forte expansão militar;
5) A Liga das Nações, criada em abr./1919, visava a manutenção da paz entre as nações. Contudo sua suposta neutralidade transformou-se em flagrante indecisão e passou a ser ignorada por alguns países membros que não desejavam ver o seu destino sendo decidido por outra nação ou pela "Liga dos Vitoriosos", como passou a ver vista.

Obs.: ¹ (1815-1866) Associação política-econônica em torno dos territórios de língua germânica.
² Já unificado pelo Chanceler da Prússia, Otto von Bismarck, em 1871.
³ Gavrilo Princip, de apenas 19 anos, foi preso e quatro anos depois morreu de tuberculose no cativeiro, certamente o mais ilustre fantoche da História moderna.

Nenhum comentário:

Postar um comentário